Utopias do mundo pós-pandêmico

Papa Francisco na Praça de São Pedro – vazia no domingo, 15 de março.
AFP Photo, Osservatore Romano. www.folhadelondrina.com.br/
Qual a relação entre vestibulandos e a pandemia do novo Coronavírus (mais de 3 milhões de pessoas infectadas até o momento, em todo o mundo)? A prova de redação.
Além dos cuidados para escapar da contaminação, os candidatos fariam bem em preparar-se para escrever sobre a Covid-19, provavelmente um dos temas já cotados para essa prova.
Quem apostar nessa probabilidade, encontrará na mídia material abrangente, de boa qualidade e útil na seleção de ângulos positivos e negativos, necessários a um bom embasamento sobre o assunto.
De positivo, vemos novos experimentos sociais e politico-econômicos, tal como o auxílio emergencial, iniciativa que resgata, embora provisoriamente, a lei da renda mínima para os brasileiros, jamais colocada em prática. E, ainda, discussões relevantes para a maturidade do país, o dilema entre investir recursos escassos na saúde ou na economia.
Tendem a permanecer na pós-pandemia relacionamentos ampliados exponencialmente por força do Coronavírus. Caso do trabalho presencial deslocado para as residências e da comunicação online entre cidadãos, empresas e instituições governamentais – como ocorreu na no processo de apresentação e recebimento do auxílio emergencial, embora sacrificando parcela da população incapaz de manipular aplicativos.
Vale lembrar, nesse rol de alterações provisórias passíveis de se tornar permanentes, a dinâmica da comunidade científica na busca de soluções urgentes. Descobrir medicamentos e vacinas eficazes no curtíssimo prazo tornou-se factível graças a inovações metodológicas, pesquisa e testagem adaptadas e abreviação de procedimentos burocráticos.
Entre os aspectos negativos do enfrentamento desta crise destaco duas, de muitas ocorrências: 1- corrupção e falta de ética, em nível nacional e internacional, durante a comercialização de insumos, instrumentos e máquinas de proteção e tratamento médico-hospitalar; 2- e, na perspectiva da desigualdade social, incluo o abandono e a fome dos milhares de cidadãos “invisíveis”, cujos dados não constam dos registros oficiais e, mesmo, dos programas de assistência social.
O novo Coronavírus escancarou a desigualdade entre cidadãos e, ao mesmo tempo, incentivou a solidariedade. Parte dos solidários se mobilizou. Nessa perspectiva, emergem algumas questões particularmente importantes, a meu ver: controlado o surto, como agirão pessoas e governos? A solidariedade sobreviverá à tragédia? Estabeleceremos um novo padrão de convivência? O mundo será mais cooperativo?
Prognósticos são bons exercícios de reflexão. Tomemos como exemplo as premissas acima, sintetizada na frase mais ouvida: “daqui para a frente seremos mais solidários”. Ou seja, a experiência da privação pessoal, da solidão, do medo da infecção e da morte levaria à compaixão, à sensibilidade para entender e ajudar o outro, particularmente o marginalizado, o vulnerável, o invisível.
Em outras palavras, a experiência da privação levaria à solidariedade praticada de forma consciente, isenta de preconceitos e interesses mesquinhos. Nos governantes, ela se projetaria em políticas públicas sólidas, coerentes, duradouras a ponto de sobreviverem a muitos mandatos.
É inegável que a Covid-19 já imprimiu marcas positivas e indeléveis nas pessoas, nas sociedades e suas instituições. De fato, o SARS-Cov-2 está levando à “contaminação” de sentimentos humanitários elogiáveis.
Na minha opinião, vencidas as fases de perplexidade, propagação do agente patogênico, mortes e quarentenas, a curva de generosidade e compaixão cairá. E, assim como veio, a solidariedade concreta, premente, envolvente irá se retrair e se fixar nos patamares pré-Covid-19. Com poucas exceções, seremos o que sempre fomos – talvez melhorados pelas lições que o vírus terá deixado.
Como você vê, por qualquer ângulo, o Novo Coronavírus é um tema aberto a boas reflexões. Acho que a equipe dos vestibulares deve estar pensando nisso…
Excelente texto cheio de ótimas reflexões. Parabéns, Claudia, pelo seu empenho no assunto e na ajuda mais que bem-vinda aos vestibulandos. Espero que este texto chegue neles.
Generosas palavras, Mayte. Fico muito contente e agradecida pelo seu cumprimento!
Realmente a “covid-19” esta muito cotado para ser o tema da “redação Enem 2020”, não me surpreenderia se a banca não o escalasse por ser considerado óbvio ou abranger muitas questões governamentais.
A intensidade que foi pautada sobre o corona nos últimos meses rendeu muitas ações positivas, isso é fato. Acho que o ser humano tem tendência a ser solidário quando se estabelece uma situação de “igualdade” e “caos” a mesma medida, principalmente por para precisar fica bem todos terem que estar ( é uma pena não aplicarem isso a economia).
Mas, acima de tudo acredito na bondade das pessoas. Não posso afirma que as ações humanitárias e o pensamento coletivo continuara a ser propagado de tal forma, mas creio que as pessoas que tiveram seu momento de epifania da situação e a importância da solidariedade farão seu dever, e isso já é muito, quando se trata de ser solidário devemos sempre tratar por maioria, acredito. E com certeza seremos melhorados, concordo plenamente. Não só com ações, como por nossa própria saúde e bem estar.
Obrigada pelo texto, adorei o conteúdo e a forma como foi abordado. E de grande inventivo e ajuda.
Obrigada, Samira. Incentivo para mim, também, receber seu elogio!