Em defesa do texto longo… e conciso.
Quem disse que texto curto é melhor que texto longo, porque conciso e objetivo? De certa forma, todos os especialistas e profissionais ligados à comunicação escrita. Discordo.
Texto curto e texto longo podem ser ótimos ou péssimos dependendo de alguns fatores, entre os quais as circunstâncias. O problema não é o tamanho do texto final. É o tamanho das construções.
Frases, períodos e parágrafos compridos justificam a demonização do “texto longo”. Esse tipo de construção induz à prolixidade, à ambiguidade, à incoerência, especialmente porque tende a criar digressões.
Em outras palavras, construções longas são as maiores responsáveis pela falta de concisão, objetividade e clareza das ideias, além de abusarem do tempo consumido na leitura.
Como as construções longas induzem à prolixidade, firmou-se o conceito de que texto longo é ruim, difícil de entender, além de ocupar mais tempo de leitura e espaço no layout. Consequentemente, o texto curto foi ultra valorizado e consolidou-se como texto objetivo.
Cuidado, portanto, com os conceitos: texto curto não é sinônimo de objetividade e clareza, assim como o texto longo não significa prolixidade.
Míseros espaços
Quem associa concisão com poucas linhas coloca-se um dilema: ou omite ou inclui informações que considera necessárias. Falso dilema. Na maioria das vezes, o tamanho do texto depende de duas variáveis – seleção de informações pertinentes, relevantes, e estilo das construções.
A seleção de informações deve privilegiar o contexto, quer dizer, incluir os fatos e as condições que ajudarão o leitor a entender e analisar a questão em pauta. Exclui, portanto, o que for supérfluo e repetitivo.
Quanto às construções, há formas de estilo que modificam longos enunciados, transformando-os em frases concisas, diretas e objetivas (digite as tags estrutura, concisão e estilo no botão “procure”, à direita, para encontrar explicações e exemplos sobre o assunto).
Em defesa da frase “longa e concisa”, lembro que economizar palavras em detrimento da compreensão anula um dos principais objetivos da comunicação: ser entendido. Veja este exemplo:
Você nunca deveria cozinhar feijão ou cereais sem fazer mais do que precisa. (caderno Paladar/ Estadão)
Se o objetivo era ensinar, a frase deveria ser clara e coerente : Você deve cozinhar somente a quantidade de feijão ou cereais que pretende usar.
O conselho abaixo também poderia ser mais didático:
Congelá-los (cobertos com água, ou caldo do cozimento, deixando espaço para a dilatação), funciona muito bem e economiza tempo. (ibidem)
A frase é curta, mas não simples e direta como esta:
Para congelar, cubra o alimento com água, ou com o caldo do cozimento, deixando um espaço livre, pois o volume irá aumentar. Com esta prática, você economizará tempo e gás.
Conclusão: os redatores sacrificaram a clareza economizando míseros espaços: quatro, no primeiro exemplo, e 45, no segundo.
A ojeriza contra o texto longo também afeta as empresas. Quanto maior o relacionamento com clientes, fornecedores e outros públicos, mais críticas são a acuidade da informação e a clareza na leitura.
Serviços de atendimento ao consumidor, por exemplo, deveriam se encantar menos com relatos “breves e objetivos” e valorizar mais o contexto, as condições que levaram os clientes a se decepcionar ou a se atrapalhar com seu produtos e serviços.
Reversão do mito
Quem hesita em adotar, para si e para sua equipe, o texto “longo, mas conciso”, como defendido aqui, vale a pena ponderar sobre o que diz o palestrante e empreendedor Josh Steimle, membro do grupo Marketing Communication (Linkedin), em seu artigo This is How Top Bloggers Get 90% of Their Traffic (maio passado).
Para surpresa de muitos profissionais, ele adverte que leitores não odeiam conteúdos longos – odeiam maus conteúdos; odeiam ainda mais quando são longos…
Create long-form content for better searchability.
Marketers often talk about how today’s online readers have short attention spans, but I don’t buy this for a minute. Readers don’t hate long form content, they hate bad content. They hate bad content even more when it’s long. If the content is great content, then they want even more of it. (grifo meu)
Normas e recomendações precisam ser relativizadas, de acordo com as circunstâncias. Assim, antes de cortar texto, flexione concisão com dois adjetivos – a concisão inteligente e a concisão desinteligente.
Muito interessante essa quebra de paradigma. E muito útil para a prática diária das editoras.
E mais coerente, não é mesmo? O que se apregoa, por aí, é a concisão pela concisão. Uma ideia rígida. Fico feliz de encontrar seu comentário no meu site. É bastante motivador. Um abraço, Magali.